Uma Pessoa de Cada Vez: Joana Ivónia

Joana Ivónia é designer, ativista e investigadora. Fundou a associação Ciclaveiro, estrutura fundamental na promoção do uso da bicicleta para a construção de uma cidade mais sustentável, assim como a Casa da Bicicleta – Ciclaveiro, espaço que reúne um velocowork, uma oficina comunitária, uma montra para produtos e marcas nacionais e área para workshops, projeções e exposições. É também uma das coordenadoras do Programa de Participação de Aveiro 2027 e fomos ouvir as suas impressões sobre esta iniciativa e as principais oportunidades que Aveiro tem pela frente.

Quais os principais desafios do seu setor de atividade?

O grupo setorial de lazer e bem-estar, reúne diversas entidades, coletivos formais e informais relacionados com desporto, sustentabilidade, mobilidade, partilha comunitária e de saberes.

Este grupo setorial identificou um conjunto de vários desafios e preocupações nas quais destaco a comunicação, o trabalho em rede e a infraestrutura.

Na comunicação, o desafio é para a necessidade de uma comunicação partilhada, como podemos articular a comunicação entre iniciativas e aumentar a proximidade e agilidade de resposta com o poder local criando uma maior cooperação.

Ao nível de infraestrutura, este grupo identificou a falta de espaços que promovam e estimulem o encontro e a partilha, seja em espaço público, seja em espaços que incentivem à criação e à cocriação. A este nível foram identificadas carências de espaços para sediar projetos formais e informais e ainda infraestruturas para atividades específicas como ginástica rítmica, entre outras. Foi também identificada a necessidade de infraestruturas ao nível de mobilidade suave que interliguem o território e promovam a acessibilidade da população para práticas de lazer e desporto, de vida ativa e fruição. A agilidade e apoio para uma maior utilização do espaço público foi também identificado.

O último desafio identificado está relacionado com as várias fragilidades no trabalho em rede e que foi marcado na sessão com referência à necessidade e urgência na partilha de recursos, na cooperação e na colaboração para a cocriação.

Quais as oportunidades que a Capital Europeia da Cultura 2027 pode trazer ao seu setor?

Quanto a oportunidades que esta candidatura pode trazer ao setor, destaco a oportunidade do próprio território, do nosso território e do seu potencial natural. É um trabalho de aproximação e aumento da relação com o ecossistema natural único que temos, e desta oportunidade de trabalhar o tema em si, mas também o próprio território e a relação com os públicos ligados a este ecossistema natural. Ainda relativamente a este ponto, reforço a oportunidade de trabalhar o tema da sustentabilidade e da mobilidade sustentável de forma transversal e estratégica.

Um desafio, mas também visto aqui como uma oportunidade, foi a do trabalho em rede para a criação e cocriação de projetos interdisciplinares e transdisciplinares, com o cruzamento de áreas e de parcerias setoriais, transetoriais e estratégicas.

Foi também sugerida ainda a oportunidade/necessidade de criação de uma plataforma colaborativa de partilha de recursos, mas também de agenda partilhada, que funcione de forma ágil e acessível.

Por último, e um misto entre oportunidade e desafio, foi apontada a fragilidade ao nível de  “massa crítica”. E desta fragilidade consideramos ter aqui uma oportunidade para investimento no capital humano, através da capacitação de atores do setor, reconhecendo a necessidade de projetos de continuidade e diálogo permanente.

Como tem sido a experiência de acompanhamento do Programa de Participação de Aveiro 2027?

Tem sido uma experiencia, ainda que no início, muito enriquecedora, não só pela oportunidade de contribuir de alguma forma para a valorização do nosso território mas também pela oportunidade de conhecer um conjunto de pessoas que estão igualmente motivadas e empenhadas para o mesmo. A equipa que está a liderar o processo participação, tem sido fundamental e cria maior confiança e motivação para o que naturalmente me motiva, envolver a comunidade verdadeiramente nesta candidatura. E isto pode mudar tudo como aliás a campanha da candidatura comunica “E isto muda tudo”.

É um processo em que todos aprendemos, em que retiramos aprendizagens, mas também é importante que seja um processo de continuidade, como aliás o próprio grupo setorial identificou com um desafio. Escutar os diferentes grupos setoriais, diferentes entidades, conhecer as preocupações e discuti-las, as ideias e os vários contributos que as pessoas querem partilhar, experimentar e ver a acontecer é um desafio enorme desta candidatura. Independentemente de todo o processo que está apenas no início, este é também um caminho partilhado pelos vários grupos setoriais.

Como designer, é muito curioso e vejo-o como muito algo extremamente positivo, perceber que o Design é reconhecido como um vetor fundamental, na articulação e facilitação na comunicação entre públicos e projetos mas também para o desenvolvimento do próprio território ligado a desenvolvimento de novos projetos, produtos e serviços. Fiquei ainda bastante confiante com o potencial identificado por vários grupos setoriais, desde a saúde, ao ambiente e território, mas também o setor da educação e do tecido industrial sobre ser fundamental repensar a mobilidade de pessoas e bens e de trazer este tema, que me é tão próximo, como um ponto de base e transversal a trabalhar para uma cidade que quer ser Capital Europeia da Cultura.

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